Comparação: a morte do artista
- Bárbara Başarı
- Jul 4, 2020
- 5 min read
Updated: Aug 26, 2020
Comparação ato intuitivo, que fazemos vezes sem conta durante a nossa vida, como se tratasse de uma rotina qualquer. O problema para mim não é a palavra, mas toda a carga que ela trás consigo. Infelizmente, quando nos comparamos temos tendência ou para sobrevalorizarmos ou, como costuma ser mais comum desvalorizarmos. Tanto uma como outra pouco abona a nosso favor, especialmente quando os efeitos secundários são frustração, ansiedade, insegurança etc, especialmente para o segundo caso. “Somos todos iguais e todos diferentes”: Então como é possível levarmos a comparação adiante quase como se fosse uma arma de autodestruição?
O que me leva a outra reflexão: o que é ser artista? Não é ser único? Ser diferente? Ora bem, será que a comparação não nos levará a padronização comportamental, matarmos assim o que nos fará artistas? E quem é que implanta as normas que devemos de ser assim ou assado? De onde vem os padrões? Quem fez história não segui propriamente os padrões, mas buscou, sem se dar por isso, provavelmente, seguir a sua intuição mesclada com o trabalho no sentido de aperfeiçoar o seu dom, o seu talento, a sua ideia...
Quando alguém vos comparar dou o meu primeiro conselho fujam dessa pessoa. Ahahahah, até porque vocês já fazem, não precisam de mais gente para ajudar à “festa”. Primeiro, a pessoa não vos vê o ser único, que vocês são pois ela não parte de vocês para vocês, mas dos outros para vocês… agora aquela pessoa que olha para vocês e consegue ver as vossas singularidades e partir daí vos dar dicas para potencializar essas características é a pessoa certa… porque simplesmente ela vê você… e tudo aquilo que você pode evoluir dentro do seu estilo.
O ato de comparar enquadra-se na teoria da comparação social de Leon Festinger, afirmando que o ato de comparação acaba por ser o meio pelo qual as pessoas validam as suas opiniões e habilidades.
Ora bem, meu Deus, ainda bem que aqueles/as que fizeram história, arrisco aqui dizer que não se tentaram comparar, pois desta forma não validariam o que acabaram por fazer…não concordam? Pois eles pouco se importaram com um outro conceito, que este tema nos leva à uniformidade de grupo. Este conceito é muito importante e colocado em prática no mundo da dança é muito perigoso… pois vemos a subir ao palco, quase a padronização de forma de dançar e isso de alguma forma preocupa-me. Não pela dança, mas pela pessoa por de trás da bailarina, pois na busca dos seus pontos fortes, o que a destaca… tona-se um exercício difícil, pois parece tudo um pouco similar. Até dou o exemplo, das danças de salão onde a cópia de look, por exemplo, a cor e até o corte de cabelo com as bailarinas internacionais do momento chegou a ser prática “no meu tempo”.
Dou o meu segundo conselho não se esqueça de se consciencializar dos seus pontos fortes, defina o que a distingue… porque esquecer deles será sem dúvida “a morte do artista”, como diria Herman José “do verdadeiro artista”.
Para o bem e para o mal, fazer o caminho de evolução no nosso próprio estilo é difícil… pois temos que saber muito bem definir e refletir: o que é passível de evolução/pontos a melhorar vs mudança para o caminho da padronização. Gente que jogo de cintura. Quem nunca se perdeu, neste jogo? Ponha o dedo no ar já? Pois provavelmente você também… mas costumo dizer não é mau nos perdermos, de vez em quando, porque voltar a (re)encontrar o nosso EU é muito mais empoderador… pois experimentamos o que faz parte de nós e o que não faz.
O que é bom para os outros/as pode não ser bom para nós e nem sempre o que é institucionalizado de mau ou bom, é uma verdade la Palice, ou seja, acaba por ser muito discutível…
Vejam este exemplo, a média de altura de uma mulher na holanda eu seria de estatura baixa, mas por exemplo na indonésia eu estaria bem acima da estatura média onde me considerariam acima do padrão diria assim…. Ou seja o ser baixa ou alta é discutível isso não nos define na realidade, define-se para os outros mediante a uniformidade do grupo…
Devem se estar a perguntar: mas afinal, como eu evoluo? Olhar para os outros, aprender com os outros eu faço mal? Como vou evoluir?
É simples a resposta, e partindo do princípio do poder e da intencionalidade das palavras que usamos eu prefiro dizer admiração. Quando eu vejo alguém a dançar ou a ser algo que eu tenho que melhorar em mim eu admiro a sua execução… é óbvio que eu quero aprender com aquela pessoa e claro que frequento os workshops, cursos etc...mas sempre na lógica de aprender como a pessoa faz e ver de que forma se adapta a mim. Atenção admiro sempre… quando admiramos nós apreciamos, contemplamos, encantamos com o belo…. E atenção, o que é para nós bom há quem não o ache, mas isso não quer dizer que o que admiramos é mau… simplesmente se vos chamou atenção quer dizer que dentro do estilo que queremos para nós faz sentido… muitas das vezes nem apreciamos algo diferente, porque não esta “validado”, seja lá por quem for, como bom….
Quando admiramos, em vez de comparar, acabamos por admirar pessoas que não estão necessariamente na mesma linha, neste caso de dança do que nós. Tenho a consciência que existem passos que realizados naquele corpo tem um efeito e no meu corpo terá outro. Por isso que admiro, porque tentar copiar será impossível, o resultado não será o mesmo… portanto “comparar o incomparável” será pura imprudência. Mas ao invés disso, admirarem e se mais tarde quiserem trazer para a sua dança, já sabem tem que ser do vosso jeito e não copiar….
Dou o meu terceiro conselho: admire, mesmo que alguém que admire diga que não é bom. Se chamou a sua atenção pare e aprecie provavelmente alguma coisa e de alguma forma, alguma mensagem tirara daí…, talvez seja um contributo para a sua bailarina, para a sua pessoa… não se limite ao que os outros estipulam como bom ou mau… expanda as suas singularidades… e não se compare…. Admire os outros…. E também a si pois “nada se manifestará fora o que não tem dentro”. Em suma, concentre-se na sua jornada… se você é única/o ela será única.
Tudo isto serão luzes no fundo do túnel, que irão ajudar a ir ao encontro daquilo que acho essencial definir sempre: objetivos de performance/ desempenho.
Você define os seus objetivos de desempenho? Com que regularidade? E os pontos a melhor também tem consciência deles? E os seus pontos fortes?
Beijinhos empoderados e dançantes

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