Intercâmbio cultural: a minha bailarina das danças de salão vs dança árabe
- Bárbara Başarı
- Jul 12, 2020
- 6 min read
Updated: Aug 26, 2020
A minha bailarina das danças de salão (DS) que eu não esqueci na dança árabe (DA). O que minha bailarina de danças de salão ensinaria à minha bailarina dança árabe e vise versa… conheça hoje aqui neste post.
Nunca tinha pensado nisso, digamos conscientemente, pois sei que a experiência que adveio das danças de salão (DS), muito me ajudou no desafio de abraçar a dança árabe (DA)… mas também pôs a nu muitas outras coisas, que foram um desafio vencê-las.
Sou franca gosto muito de receber as vossas sugestões, algumas ainda estão na minha lista, só que muitos dos textos são fruto da “inspiração” do momento, da oportunidade ou até mesmo daquilo que chamo a intuição a trabalhar. Não tendo muitas vezes a consciência da pertinência do momento de determinados temas, mas só que deixo defluir.
Esta foi uma sugestão, neste caso da minha queridíssima Estela Cameiro, a quem muito agradeço.
Portanto, bora lá...
Vamos começar por aquilo que herdei das DS e não quero mudar, porque para mim acabam por ser pontos que me caracterizam:
Bem o primeiro facto é certamente, aquele que todos acabam por se lembrar de imediato: postura em palco, atitude… Não quer dizer que nas DS tenha sido diferente quando comecei, mas sei que o facto de pisar o palco antes deu-me mais confiança e a mistura com atitude e a postura em palco, acabou por dar o que é hoje. Em DS atitude é algo que acaba por se trabalhar sempre, primeiro porque numa competição somos capazes de estar 6 pares ou mais em pista e sem dúvida que toda a gente se quer evidenciar. As coreografias são praticamente as mesmas, o que acabamos por focar na atitude e no desempenho técnico. Só se subirmos de escalão é que acabamos por as renovar. Não sei se é com vocês assim, mas por exemplo na DA em cada competição acabo por fazer uma nova coreografia… ou seja, acabo por trabalhar vários níveis da minha bailarina.
Postura altiva é uma imagem marcante das DS, vi muitas bailarinas a começarem “bebés”, e em 6 meses viraram mulherões em pista… as mudanças de postura são mais rápidas. Óbvio não em todas, mas para quem tem potencial logo chega lá e quem não tem acaba por trabalhá-la de forma exaustiva e de alguma forma acaba por sair.
Também herdei em estar sempre preparada para o palco, digamos para ação. Eu quando danço mesmo no dito “treino” ou em aula eu tenho uma postura de que estou em palco. Isso herdei das DS, porque temos que ter e pensar na versão como ficaria em palco e nisso nunca me esqueço do meu professor Samuel nos dizer “façam como fizessem lá… não pensem que é lá que as coisas saem”. Até fazíamos pequenas competições em turma… e os domingos à tarde, especialmente, no ano 2007 foram fantásticos. Sala cheia, com os diferentes pares de competição, de todos os escalões… eu adorava… até porque todas as turmas dos diferentes locais de aulas acabavam por se conhecer e estimular o sentido de grande grupo.
Outro ponto nas DS é a parceria, já que é a base desta dança e aprendemos como ninguém o que uma boa ou uma disfuncional parceria nos consegue dar. Ótimo treino para o namoro ou casamento ahahahah, e estou a falar da parte psicológica tá… porque a negociação, a escuta, o que cada um valoriza, os valores, os objetivos, as atitudes etc tudo influência na dinâmica e óbvio o momento de cada um na vida…
No “caminho” imputamos a culpa do nosso (in)sucesso ao parceiro, seja pela condução, ou por isto ou por aquilo. Na verdade é no equilíbrio das duas energias que reside o segredo. Mas escusado será dizer que para a maioria dos meus pares transpiravam em dose extra...ahahaha exceto um…que digo que é a “minha alma gémea nas danças de salão”, meu Carlitos. Tal como na vida não há bons ou maus pares há aqueles em que estamos em sintonia de energia, velocidade, de ideias e objetivos e em que duas personalidades, tal como no casamento ou namoro se complementam bem ahahah e que bem que sabe.
Quanto à técnica escusado será dizer os giros/as voltas é uma herança de DS não haja dúvida… ahahaha muito mais numa linha “spin” do que “turn”… Com os giros tenho uma história engraçada, que vou partilhar no vídeo no youtube… e acho que é a minha imagem de marca, pois quando dou por mim toda a gente falam-me delas seja num mundo ou no outro.
Um dos passos que me foi ensinado no curso de DA e que já vinha a fazer há anos foi o chassé. Adoro chassé…ahahaha faz-me sentir livre e voar não como o “Jardel entre os centrais” (como diz a música) mas quase…. é um passo muito usado em ambos os mundos. O meu chassé já me disseram que é ligeiramente diferente… é caso para dizer é o meu ahahah… e como gosto nunca quis mudar. O meu chasse é ligeiramente “twistado”, laterizado digamos assim que fica mais evidente em músicas mais alegres e ritmadas. A minha anca tem vida própria...ahahah… e comunica com as diagonais.
Por acaso, outro movimento que gosto e usado nos dois mundo é o twis, embora na DA, seja mais singelo… nas DS podemos abusar na velocidade tendo como coadjuvante os joelhos, sem que a sua presença necessite de passar despercebida ...
DS empodera muito a bailarina e a competição é feroz, porque é muita gente ao mesmo tempo a dançar e a tentar cativar os jurados, que acaba por ser um objetivo instintivo. DS, para mim é uma dança para fora de si, mesmo na rumba, ainda assim a menos dançado para fora. Isto é, este empoderamente é trabalhado para fora numa postura ativa. Logo ela tem uma preocupação comunicativa. Nas competições de DS podemos estar a 1 palmo de distância dos jurados e isso não pode ser motivo de engano ou inibição.
Quantos aos pontos que trazia das danças árabes para a dança de salão:
A DA é uma dança na maioria das vezes para dentro… e algumas dançam nada para fora.
Não é uma crítica longe disso… mas os extremos não é um bom sinal… por isso ambas as danças tem que herdar um pouco de cada lado digamos assim. É o que eu faria. É o que eu faço, aliás. Por exemplo, na minha última coreografia eu achei-me pouco fora e muito dentro, no entanto os resultados foram bons no festival, porque é mais valorizado na DA. No entanto, o equilíbrio entre ambos é onde me sinto melhor. Mas como digo sempre a quem me rodeia… experimentem façam diferente para verem se os resultados são diferentes… é o láboratório... o que apresentamos hoje não nos vai definir como bailarinas… mas sim é o experimento para alcançar os nossos objetivos de desempenho.
Quanto às parcerias: DA és tu contigo mesma não vale a pena empurrar a culpa para ninguém, porque ela aqui morre solteira... As nossas fragilidades ficam a nu temos forçosamente lidar com elas, também podemos culpar outrem… mas no palco és “sozinha, despedida e nua branda de espanto” (Bárbara Basari). Para mim a dança árabe é tipo terapia individual… e como bem sabemos quanto melhores estamos dentro, melhor conseguimos gerir as nossas emoções com os outros, e melhor dançamos…. Hoje sei o que fazem parcerias de sucesso… e muito me valeu essa noção quando tive que fazer o segundo exame do curso da APDV… sintonia em muitos aspetos é crucial… mas a energia é uma delas e tem que existir, e estou a falar a do nosso corpo… é necessário termos ao nosso lado a energia parecida connosco, do mesmo elemento, só assim 2 podem parecer 1... e óbvio que temos que ter as mesmas prioridades, caso contrário cada um rema para um lado.
Outro ponto que ensinaria à minha bailarina das DS seria a leitura musical. Hoje tenho uma consciência, que penso que nunca tive. Primeiro, porque as coreografias nas DS evidência o ritmo e a melodia, por exemplo tem que vir da consciência e da inspiração do momento de cada um. As coreografias das DS são feitas para o ritmo sendo adaptável a qualquer música desse ritmo, já que nas competições para quem não sabe nós não sabemos qual é a música, portanto dentro daquele ritmo pode haver umas mais lentas outras mais rápidas.
Outro ponto é a densidade /nomenclátura de certos movimentos DA.
Outra coisa, é que as DA privilegia mais a respiração. Atenção eu não sou exemplo, não é culpa das DS a minha respiração, porque mesmo lá diziam para eu ter calma...ahahah, especialmente na rumba, mas eu sempre pensei a vida só se vive uma vez por isso vamos vive-lá intensamente ahahah misturando um pouco de nervosismo e a vontade imensa de dançar bemmmmm, um dia partilho um vídeo desses tempos, especialmente o jive (a minha dança favorita).
Confesso que tenho até curiosidade em ver a minha bailarina de DS HOJE depois que estou na DA… verdade que o meu ouvido não é o mesmo está mais afinado… e as bases da DS não me chegam para transmitir o que sinto… verdade que estou mais respirada, mas recentemente sem treino só entre amigos dancei… e é óbvio que bora lá carregar no acelerador ahahaha (obrigada Gian) para quem dá né… outras vezes, dependendo do par, sinto que deve de ser qb, óbvio, que a minha natureza instintiva queria mais…. Mas já era bom estar em pista e a matar saudades ahahaha...
Espero que gostem e aguardo os vossos feedbacks e claro as vossas sugestões :D
Beijinhos dançantes e empoderados

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